segunda-feira, 4 de agosto de 2008

programa #3 - a historia do vinyl - 3a parte


“A Indústria Fonográfica”


Com o sucesso das “máquinas falantes” na virada do século, o que era apenas uma experiência científica, poucos anos depois havia se tornado um objeto de desejo e o prazer de se divertir ouvindo música nos phonographos e gramophones era inovador e muito fascinante. Por mais “tosco” que fosse, o som dessas primeiras máquinas, alegrava e sofisticava o ambiente, reunia e encantava as pessoas.

Mesmo no início, o repertório dos primeiros discos e cilindros era relativamente diverso, podíamos ouvir bandas, cantores, recitais, monólogos, instrumentistas etc... e como as vendas aumentavam a procura por novos artistas não parava de crescer. E aos poucos vai se formando um novo mercado, a Indústria Fonográfica, que parecia não ter mais freio, pequenas fábricas, lojas e revendedores apareciam por toda America e Europa.

A cada dia, mais e mais pessoas se envolviam com essa novidade, artistas, caçadores de talento, comerciantes, empreendedores, montadores, enfim, pode-se dizer que foi neste panorama que começou a se desenhar os primeiros contornos do extenso mapa da música moderna.











Esta photo mostra um dia de trabalho na fábrica de cilindros da Edison Phonograph Company.

Nesta época a America vivia o auge do vaudeville, um gênero de entretenimento diverso, onde vários artistas se apresentavam um após o outro numa espécie de show constante, geralmente acontecia em algum teatro ou em um circo itinerante. Podiam ser cantores, malabaristas, músicos, mágicos, comediantes, atores, dançarinos, autênticos índios, animais adestrados, gente bizarra, fazendo qualquer tipo de performance que atraísse o público por um nickel. Estavam em todas a cidades americanas.

O repertório dos discos e cilindros acompanhava a tendência artística da época e naturalmente esses artistas "alternativos" fariam também parte dos primeiros catálogos musicais.

















Assista a uma típica apresentação de vaudeville.


Marchas e Bandas Militares também eram bastante populares, num período próximo a primeira grande guerra elas faziam parte da trilha sonora do momento, com diversos "hit's" nas listas dos cilindros e discos mais vendidos. Várias bandas se destacaram, dentre elas a U.S. Marine Band e a New York Military Band.











As bandas militares tiveram uma estreita relação com os phonographos e gramophones, eram verdadeiros "pop stars".


E foi também foi a grande época dos tenores. Por terem uma voz clara, alta e forte os tenores gravavam muito bem além de serem conhecidas celebridades.

O tenor italiano Enrico Caruso foi o primeiro grande vendedor de discos da história, mesmo tendo morrido em 1921, antes do uso de microfone nas gravações, Caruso venderia discos por muitos e muitos anos o que ajudou a popularizar definitivamente os phonographos e gramophones, promovendo então a indústria fonográfica.






















O tenor Enrico Caruso

Já no início do século XX várias gravadoras e selos apareciam pelo mundo todo. Na Inglaterra a HMV lança em 1903 “Ernani” de Verdi a primeira ópera completa em 40 singles, gravados apenas de um lado...!!!

Na Alemanha é fundada em 1904 a Odeon que começa a fabricar discos com música nos 2 lados e em 1909 lança o “Quebra Nozes” de Tchaikovsky em 4 discos numa embalagem com arte especialmente desenhada. Foi a primeira vez que se usou o termo “album” para um trabalho musical de um artista em discos.

Em 1900 o imigrante tcheco Fred Figner inaugura no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro a Casa Edison, a loja importava e vendia phonographos, gramophones, cilindros e discos com música estrangeira.

Com sucesso nas vendas, dois anos depois a Casa Edison se torna a primeira gravadora da América Latina. Em parceria com a Zonophone alemã, Figner começa a fazer os primeiros registros de música brasileira para o mercado nacional. As músicas eram gravadas no Brasil por um técnico de som alemão, as masters enviadas para a Europa onde eram fabricados os discos e seis meses mais tarde ja estavam disponíveis para venda em sua loja.

No repertório podia-se ouvir modinhas, polkas, tangos, choros, maxixes e o lundu "Isto é Bom" de Xisto Bahia, interpretado por Bahiano recebeu o registro de numero 1 no catálogo da Casa Edison.
























Inicialmente no Brasil os discos eram chamados de "chapas".


Alguns artistas ficaram famosos em sua gravadora, como o cantor Bahiano, o flautista Patápio Silva, a Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro do Maestro Anacleto de Medeiros e a Banda da Casa Edison.

A Casa Edison chegou a ter no seu catálogo por volta de 3 mil músicas gravadas nas duas primeiras décadas do século XX...!!! Assim Figner tornou-se pioneiro na gravação e venda de música popular brasileira, deixando um importante legado para a história da música.

Em 1913 no bairro de Vila Isabel a Victor Talking Machine - Odeon instala sua primeira fábrica de discos no Brasil sob a tutela de Figner, que passou a ser distribuidor exclusivo do catálogo da Odeon para a América Latina. Um ano depois a fábrica ja produzia 1,5 milhão de discos por ano, se tornando o quarto mercado mundial...!!!















A Banda da Casa Edison (circa 1910)

Pelos quatro cantos do mundo as gravadoras começaram a estabelecer as tendências musicais e a cada geração a história da música continuava sendo escrita pelos artistas de seu tempo que finalmente podiam deixar
as notas de seus instrumentos gravadas para a posteridade.

Um novo universo se criava então em torno dos phonographos e gramophones, o público não so procurava pelos discos e cilindros de seus artistas preferidos, mas também por informação, acessórios e novidades do mercado.

As primeiras publicações dedicadas ao assunto surgiram ja no final do século XIX e o marketing desses produtos podia se encontrar facilmente nas páginas dos jornais e revistas da época.



































Capa do exemplar número 1 do jonal inglês "The Phonogram" de 1893 e capa da edição de natal da "Talking Machine News" de 1912.



Um acessório muito importante e indispensável era a agulha, normalmente ela era suficiente para tocar o disco com qualidade por apenas uma ou duas vezes. Como a demanda era muito grande surgiram diversos fabricantes pelo mundo todo. Cada marca tinha uma sonoridade própria, podia reproduzir o som de maneira mais grave ou mais aguda dependendo de sua espessura e material de fabricação.

Geralmente eram feitas de aço, mas diversos outros materiais foram usados como cobre e até mesmo espinho de cactus, com bom resultado. Era importante a troca de agulhas para preservar e dar maior durabilidade aos discos.














As agulhas vinham em pequenas e simpáticas caixas de metal.


No próximo capítulo :

"cilindros versus discos, o duelo final"